Polifenóis: o segredo dos efeitos terapêuticos do Azeite de Oliva extravirgem
Por Dr. Amilcar De Oliveira
“Que seu alimento seja sua medicina, sua medicina seja seu alimento”
Hipócrates
O azeite de oliva extravirgem (EVOO – do inglês Extra virgin olive oil) é um poderoso alimento funcional cuja propriedades o elevou a categoria de um dos alimentos mais saudáveis do mundo.
Vários estudos mostraram que o EVOO é uma fonte superior de gorduras monoinsaturadas, estando associado à perda de peso e à redução do risco de doença cardiovascular além de muitos outros benefícios para a saúde.
Dentre estes estudos uma classe de fitoquímicos recebeu maior atenção, sendo estes conhecidos como compostos fenólicos ou polifenóis. Não atoa inúmeras pesquisas apontam o EVOO como uma poderosa fonte de polifenóis e sustentam que os efeitos terapêuticos do azeite de oliva advêm maiormente deste fitoquímico.
O interesse nos efeitos dos polifenóis na saúde aumentou exponencialmente nos últimos anos. Desde os anos 80, mais de 48.000 estudos foram publicados em diversas revistas cientificas que se encontram na base de dados do PUBMED, relatando múltiplos efeitos em uma ampla gama de doenças. 1
Nasir Malik, pesquisador do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos afirmou em entrevista em 2012 ao Washington Post que: “Os benefícios para a saúde do azeite de oliva extravirgem são 99% relacionados à presença dos compostos fenólicos, não ao azeite em si.” 2 Ao falar de compostos fenólicos o Dr. Nasir Malik se refere aos polifenóis presente no azeite de oliva extravirgem. Estes fitoquímicos também são encontrados no vinho, chá, cacau, café, nozes, sementes e muitas frutas e vegetais.
O que são esta classe de fitoquímicos conhecidos como polifenóis?
Polifenol é um termo genérico para uma grande família de compostos produzidos pelas plantas, com o objetivo de se proteger contra pragas, raio ultravioleta, e outras agressões sofrida por elas, compreendendo várias unidades de fenol, que atuam como antioxidantes.
Os pesquisadores já catalogaram entre 8.000 a 10.000 tipos diferentes de polifenóis além de mais de 100 tipos diferentes de alimentos com ao menos um miligrama de polifenol por 100 gramas ou mililitros de bebidas. Estes variam muito, encontrando-se em diferentes quantidades desde frutas e vegetais a grãos inteiros, nozes e sementes.
De acordo com o Fenol-Explorer, um banco de dados de polifenóis, 25 polifenóis são encontrados no azeite de oliva extravirgem. Destes 25, os mais significativos são os tirosóis que incluem a oleuropeína, hidroxitirosol e o oleocanthal. Este último está chamando a atenção dos pesquisadores por sua capacidade estimulatória de funções biomoleculares responsáveis por prevenir e restaurar a perda da saúde.3
Tratando-se do azeite de oliva, os polifenóis são encontrados mais abundantemente no azeite extravirgem e alguns polifenóis estão presentes no azeite virgem. Já no azeite refinado contém apenas vestígios de polifenóis, que são removidos durante o processo de refinação.
Polifenóis reduzem o risco de doenças cardíacas
Centenas de estudos associaram os polifenóis a vários efeitos benéficos a saúde. O principal desses benefícios é a redução do risco de doenças cardíacas, principalmente devido às suas propriedades antioxidantes. Os antioxidantes ajudam a reduzir a inflamação crônica, o principal fator de risco para doenças cardíacas.
Dois estudos recentes – um estudo de revisão e meta-análise publicado na Revista Internacional de Ciências Moleculares4 e o outro artigo de revisão publicado no Jornal de Medicina Oxidativa e Longevidade Celular,5 mostraram que dietas ricas em polifenóis tem a capacidade de baixar a pressão arterial e o colesterol LDL (lipídio de baixa densidade) e aumentar os níveis de colesterol HDL (lipídio de alta densidade).
Polifenóis diminuem o risco de diabetes
Além de fornecer benefícios para a saúde do coração, os polifenóis também mostraram reduzir os níveis de açúcar no sangue, o que diminui o risco de Diabetes tipo 2.
Um estudo publicado no British Journal of Nutrition em 2017, descobriu que os participantes que comeram grandes quantidades de alimentos ricos em polifenóis tiveram uma redução de 57% de desenvolver diabetes tipo 2 em um período de dois a quatro anos do que as pessoas que consumiram quantidades muito baixas de polifenóis.6
Estudos também demostraram o efeito antitrombótico dos extratos vegetais e do EVOO ricos em polifenóis, estando seu consumo associado com a redução do risco de coágulos sanguíneos, evitando o excesso de agregação plaquetária.7
Entre as razões apontadas em relação a diabetes tipo 2 é que os polifenóis ajudam estimular a secreção de insulina, que facilita a retirada do açúcar da corrente sanguínea, depositando-o nas células. Isso mantém os níveis de açúcar no sangue estáveis. Além disso, dietas ricas em polifenóis reduzem também os níveis de açúcar no sangue em jejum e aumentam a tolerância à glicose, fatores essenciais para reduzir o risco de contrair diabetes tipo 2.8 Além disso, outro artigo de revisão focou em um tipo de polifenol conhecido como antocianinas e sua influência no combate a obesidade e comorbidades.9
Polifenóis podem ajudar pacientes com câncer e demência
Embora os pesquisadores sejam os primeiros a admitir que mais estudos precisam ser feitos sobre o assunto, os polifenóis também foram associados a um menor risco de câncer de próstata e mama.
Alguns estudos conduzidos sugerem que os polifenóis bloqueiam o crescimento e o desenvolvimento desses tipos de células cancerígenas.
Como resultado, um estudo mostrou que tratamentos à base de oleocanthal podem ser eficazes como parte da terapia direcionada para alguns tipos de pacientes com câncer de mama.10,11
Os pesquisadores por trás deste estudo também descobriram que oleocanthal regula anormalidades em um receptor responsável pelo desenvolvimento de doença de Alzheimer.
Em pacientes com Alzheimer, o receptor fica super estimulado e promove a inflamação. Portanto, os pesquisadores levantam a hipótese de que o consumo de oleocanthal pode regular o receptor e diminuir a inflamação.12
Polifenóis restauram bactérias intestinais
Além de ajudar a prevenir certas doenças crônicas, alguns estudos científicos também mostram que azeite extravirgem com alto conteúdo de polifenol promove o crescimento de bactérias intestinais benéficas, o que ajuda na digestão.13,14,15
Outro estudo demonstrou que os adeptos da Dieta Mediterrânea que inclui polifenóis derivados de vários vegetais e frutas, além do azeite de oliva extravirgem e que fazem parte a milênios da forma tradicional de se alimentar dos povos do mediterrâneo, tinham uma microbiota intestinal diversificada, o que está associado a um melhor controle de peso.16,17,18.19,20
Os polifenóis também adicionam muito sabor ao EVOO
Além de conferir ao azeite extravirgem seus muitos benefícios para a saúde, os polifenóis também contribuem para os perfis de sabores do azeite.
A presença de polifenóis contribui para a adstringência, amargura e pungência. Dependendo dos tipos de azeitonas e de quando são colhidas, esses atributos podem impactar em maior ou menor grau o azeite de oliva extravirgem, podendo ser detectados facilmente após degustação.
Adstringência é a sensação de enrugamento, que é criada pelos taninos, um tipo de polifenol. A adstringência está associada a azeites extravirgem robustos e colhidos precocemente. A adstringência será notada principalmente ao saborear o azeite puro sem mesclar com outros alimentos.
Por outro lado, o amargor – devido à oleuropeína – é um dos sabores menos apreciados pela maioria das pessoas, mas é um excelente indicador de que um EVOO foi feito com azeitonas não maduras. Como acontece com certos tipos de cerveja, chocolate e café, o amargor é um sabor adquirido, cuja apreciação vem com o tempo.
Enquanto isso, pungência é a sensação de ardor na garganta, que está principalmente associada ao oleocanthal. Ocasionalmente, a sensação, que é semelhante à da pimenta malagueta, é forte o suficiente para forçar uma tosse.
Dicas para selecionar EVOO com alto teor de polifenol
Embora poucas marcas listem o conteúdo de polifenol de seus EVOOs diretamente no rótulo, existem alguns truques para encontrar EVOO com níveis alto polifenol em qualquer loja ou mercado.
A primeira é verificar o rótulo para ver se as azeitonas foram colhidas precocemente. Os polifenóis acumulam-se nas azeitonas jovens e diminuem progressivamente à medida que a fruta amadurece. Portanto, um EVOO de colheita precoce tem mais polifenóis. Existem mais de mil variedades de azeitonas cultivadas em dezenas de países nos seis continentes. Aqui estão algumas das mais comuns usadas em azeitonas de mesa e na produção de EVOO.
As variedades mais conhecidas são Coratina, Cornicabra, Maurino, Picual e Mission ou blends toscanos. Essas variedades de azeitona têm os níveis mais altos de polifenóis.
Além disso, as azeitonas colhidas em climas temperados em vez de áridos também têm níveis mais elevados de polifenóis. Provavelmente, isso se deve à taxa de maturação das azeitonas nesses climas específicos.
Finalmente, se nenhuma dessas informações estiver disponível, selecione EVOOs robustos em vez de leves ou delicados. Os azeites são robustos e de sabor forte por causa da presença dos polifenóis.21,22,23
Segundo a agência reguladora Europeia, a dosagem ideal mínima para alcançar os efeitos benéficos dos polifenóis no consumo de EVOOs é de uma ingestão diária de 20 g. Isso se o EVOO verdadeiramente contém pelo menos 5 mg de hidroxitirosol e seus derivados (por exemplo, complexo oleuropeína e oleocanthal) por 20 g de azeite.24
Fontes:
1- Polyphenol, Search 1980-2022
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/?term=Polyphenol+
2- Washignton Post, “Olive oil’s health benefits? It’s a slippery question”
https://www.washingtonpost.com/lifestyle/wellness/olive-oils-health-benefits-its-a-slippery-question/2012/09/10/09aca37a-e257-11e1-98e7-89d659f9c106_story.html
3- Phenol-Explorer, “Mostrando todos os polifenóis encontrado no Azeite extravirgem”
http://phenol-explorer.eu/contents/food/822
4- Potì F, Santi D, Spaggiari G, Zimetti F, Zanotti I. Polyphenol Health Effects on Cardiovascular and Neurodegenerative Disorders: A Review and Meta-Analysis. Int J Mol Sci. 2019;20(2):351. Published 2019 Jan 16. doi: 10.3390/ijms20020351
5- Cheng YC, Sheen JM, Hu WL, Hung YC. Polyphenols and Oxidative Stress in Atherosclerosis-Related Ischemic Heart Disease and Stroke. Oxid Med Cell Longev. 2017;2017:8526438. oi: 10.1155/2017/8526438
6- Grosso G, Stepaniak U, Micek A, et al. Dietary polyphenol intake and risk of type 2 diabetes in the Polish arm of the Health, Alcohol and Psychosocial factors in Eastern Europe (HAPIEE) study. Br J Nutr. 2017;118(1):60-68. doi: 10.1017/S0007114517001805
7- Bijak M, Ziewiecki R, Saluk J, et al. Thrombin inhibitory activity of some polyphenolic compounds. Med Chem Res. 2014;23(5):2324-2337. doi: 10.1007/s00044-013-0829-4
8- Kim Y, Keogh JB, Clifton PM. Polyphenols and Glycemic Control. Nutrients. 2016;8(1):17. Published 2016 Jan 5. doi: 10.3390/nu8010017
9- Azzini E, Giacometti J, Russo GL. Antiobesity Effects of Anthocyanins in Preclinical and Clinical Studies. Oxid Med Cell Longev. 2017; 2017:2740364. doi: 10.1155/2017/2740364
10- Niedzwiecki A, Roomi MW, Kalinovsky T, Rath M. Anticancer Efficacy of Polyphenols and Their Combinations. Nutrients. 2016;8(9):552. Published 2016 Sep 9. doi: 10.3390/nu8090552
11- Qusa MH, Abdelwahed KS, Siddique AB, El Sayed KA. Comparative Gene Signature of (−)-Oleocanthal Formulation Treatments in Heterogeneous Triple Negative Breast Tumor Models: Oncological Therapeutic Target Insights. Nutrients. 2021; 13(5):1706. https://doi.org/10.3390/nu13051706
12- Tajmim A, Cuevas-Ocampo AK, Siddique AB, Qusa MH, King JA, Abdelwahed KS, Sonju JJ, El Sayed KA. (-)-Oleocanthal Nutraceuticals for Alzheimer’s Disease Amyloid Pathology: Novel Oral Formulations, Therapeutic, and Molecular Insights in 5xFAD Transgenic Mice Model. Nutrients. 2021; 13(5):1702. https://doi.org/10.3390/nu13051702
13- Duda-Chodak A, Tarko T, Satora P, Sroka P. Interaction of dietary compounds, especially polyphenols, with the intestinal microbiota: a review. Eur J Nutr. 2015;54(3):325-341. doi: 10.1007/s00394-015-0852-y
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21- “Dicas para selecionar azeites de oliva com alto teor de polifenóis”
https://pt.oliveoiltimes.com/health-news/tips-for-selecting-high-polyphenol-olive-oils/92480
22- “Quantas variedades de azeitona existem e quais são as mais populares?” https://pt.oliveoiltimes.com/basics/how-many-olive-varieties-are-there/84373
23- “Azeite de Oliva Extravirgem”
https://blog.sonoma.com.br/azeite-de-oliva-extra-virgem/
24- European Commission (EC). Regulation (EU) No. 432/2012 of 16 May 2012 establishing a list of permitted health claims made on foods, other than those referring to the reduction of disease risk and to children’s development and health. Off. J. Eur. Union 2012, L 136, 1–40.
https://eur-lex.europa.eu/legal-content/EN/TXT/HTML/?uri=CELEX:32012R0432&from=EN