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História da Naturopatia: Uma Jornada da Antiguidade aos Dias Atuais

Introdução:

A busca pelo equilíbrio entre corpo e mente tem sido uma constante na história da humanidade. Desde os tempos mais remotos, nos primórdios da humanidade, nossos ancestrais através da observação, têm procurado formas naturais de promover a saúde, aliviar doenças e melhorar o bem-estar. Esses esforços constituíram as raízes da naturopatia, uma abordagem holística de cuidados da saúde que valoriza o poder de cura inerente do corpo humano e a conexão com a natureza e seus recursos.

Os Primórdios da Naturopatia

Os princípios da naturopatia remontam desde a era paleolítica às antigas civilizações, como os egípcios, gregos, romanos, chineses, indianos, astecas, incas, maias, árabes, nativos norte-americanos e nativos brasileiros. Cada uma dessas culturas desenvolveu práticas e conhecimentos que influenciaram a evolução da naturopatia. Embora o termo “naturopatia” não fosse utilizado nos primórdios da humanidade, muitos dos princípios e abordagens fundamentais da naturopatia moderna encontram suas raízes nos hábitos e conhecimentos dessas civilizações.

Egito Antigo

Na Antiguidade, no coração do Antigo Egito, as práticas de medicina natural e a conexão com a natureza desempenharam um papel essencial na busca por saúde e bem-estar.

Os egípcios antigos acreditavam firmemente que as forças da natureza estavam intrinsecamente ligadas à saúde e à cura. Eles reconheciam o poder das plantas, ervas e minerais para tratar doenças e promover a saúde.

O grande nome do Egito antigo é sem dúvida o de Imhotep, o ilustre médico egípcio que serviu de inspiração para gerações, amplamente respeitado pela medicina e pela naturopatia.  Ele ganhou esse reconhecimento por ser o primeiro médico conhecido na história e um dos pioneiros da medicina antiga a empregar plantas medicinais no tratamento de doenças e feridas, além de realizar cirurgias para lidar com lesões e enfermidades. Suas notáveis descobertas foram meticulosamente registradas em textos escritos, que são considerados os marcos iniciais da medicina e da naturopatia moderna.

Devido aos conhecimentos legados por Imhotep, os egípcios se destacaram na prática da fitoterapia e aromaterapia, utilizando uma ampla variedade de plantas medicinais em suas abordagens terapêuticas. Eles foram pioneiros no desenvolvimento de pomadas, infusões e unguentos à base de ervas, destinados ao tratamento de uma ampla gama de doenças e condições.

Os egípcios também valorizavam as propriedades terapêuticas da água, (hidroterapia) especialmente as águas do rio Nilo. Banhos e tratamentos aquáticos eram usados para aliviar sintomas e promover a saúde.

As evidências indicam que a medicina egípcia valorizava todos estes elementos naturais na promoção da saúde.

A alimentação desempenhava um papel crucial na saúde egípcia. A dieta era baseada em uma variedade de grãos, vegetais, frutas, legumes, bem como peixes e aves.

Muitos dos princípios que constituem a base da naturopatia moderna, como o uso de plantas medicinais, terapia da água e a compreensão da conexão mente-corpo, podem ser reconhecidos nas abordagens dos antigos egípcios em relação à saúde e ao bem-estar.

Grécia Antiga

Na Antiguidade, durante a Grécia Clássica, o notável Hipócrates, frequentemente reconhecido como o Pai da Medicina, deixou um legado de grande influência na evolução da naturopatia.

Hipócrates desempenhou um papel central nessa época, principalmente devido ao seu princípio mais famoso, o “VIS MEDICATRIX NATURAE”. Esse princípio tornou os gregos antigos verdadeiros pioneiros no entendimento da relação entre a natureza e a saúde. Quando Hipócrates mencionava a “natureza”, não se referia aos elementos naturais, como água, luz, sol, terra ou plantas medicinais. Ele estava abordando o que hoje conhecemos como o intrincado mecanismo biomolecular inerente a todos os seres vivos.

Ademais, em razão de outro grande conceito hipocrático: “Que seu remédio seja seu alimento e que seu alimento seja seu remédio”, observa-se claramente a ênfase dada pelos gregos, à dieta e a nutrição como componentes essenciais para manter a saúde e prevenir doenças.

A fitoterapia desempenhava um papel crucial na medicina grega antiga. Ervas, plantas e substâncias naturais eram usadas para tratar uma ampla variedade de condições. A coleta e o uso de ervas medicinais eram práticas comuns, e muitos remédios naturais eram baseados na observação e no conhecimento empírico.

A conexão mente-corpo também foi enfatizada na Grécia antiga. Os gregos compreendiam a influência dos fatores emocionais e mentais na saúde física. O equilíbrio emocional e o bem-estar eram considerados componentes vitais. Além disso, exercício, repouso, banhos terapêuticos como os banhos de vapor  usados como terapia hipertérmica, eram muito utilizados. Hipócrates afirmava que a temperatura alta podia tratar qualquer doença. Os banhos hidroterápicos, os banhos de sol,  e ar fresco eram preconizados na manutenção da saúde global.

Roma Antiga

Na Roma antiga, a busca por saúde e bem-estar estava intimamente ligada à conexão com a natureza e às práticas de medicina natural e sem dúvida o grande nome deste período foi o de Claudio Galeno.

Devido a influência e o legado de Hipócrates e de Claudio Galeno, os romanos tinham uma relação profunda com a natureza e acreditavam na influência das forças naturais na saúde e no equilíbrio do corpo. Banhos termais eram uma parte essencial da vida romana, e as termas eram frequentemente usadas não apenas para higiene, mas também para promover a saúde e o bem-estar. As propriedades terapêuticas das águas naturais eram exploradas, e os romanos valorizavam os benefícios da hidroterapia.

Os romanos também acreditavam na influência das estações do ano na saúde. Os padrões sazonais eram observados, e as práticas de cuidados de saúde eram ajustadas de acordo com as mudanças climáticas. A importância do ciclo circadiano e o equilíbrio entre o dia e a noite era prática importante na medicina romana, uma ideia que ecoa nos princípios da naturopatia.

A busca por equilíbrio com a natureza, a ênfase na hidroterapia, fitoterapia, alimentação saudável, sazonalidade e o reconhecimento da conexão mente-corpo são aspectos que podem ser considerados precursores da abordagem naturopática.

Medicina Tradicional Chinesa

Na Antiguidade, a medicina tradicional chinesa (MTC) floresceu, estabelecendo bases profundas para a abordagem holística à saúde e bem-estar. Muitos dos princípios e práticas fundamentais da naturopatia podem ser traçados até as práticas e filosofias da medicina tradicional chinesa.

A MTC tem raízes ancestrais e é fundamentada em uma visão da saúde que considera o corpo humano como um sistema integrado e interconectado com o ambiente natural. O conceito fundamental do equilíbrio entre as forças Yin e Yang, juntamente com o fluxo harmonioso de energia vital (Qi) através dos meridianos, forma a base da MTC.

A acupuntura é outro componente crucial da MTC. Ao inserir agulhas em pontos específicos ao longo dos meridianos do corpo, os praticantes buscam equilibrar o fluxo de Qi e promover a saúde e o bem-estar. Esse método destaca a crença na conexão entre os sistemas de energia do corpo e a saúde física e mental.

Na antiguidade, os médicos chineses se especializavam em diferentes áreas, com destaque para os acupunturistas, sendo o mais famoso deles Hua Tuo. Hua Tuo foi um renomado médico chinês que viveu durante o período da dinastia Han e na era dos Três Reinos. Ele é notável por ter sido o pioneiro na realização de cirurgias com anestesia, o que ocorreu cerca de 1600 anos antes dessa prática ser adotada na Europa pela medicina ocidental. Essa conquista de Hua Tuo representa um marco significativo na história da medicina.

No que diz respeito à acupuntura, Hua Tuo era reconhecido por sua habilidade extraordinária na manipulação das agulhas. Ele alcançou um nível exímio de domínio das técnicas da acupuntura e da circulação de Qi (energia). Hua Tuo tinha a notável capacidade de antever, antes mesmo da inserção da agulha, as sensações que o paciente experimentaria, incluindo a irradiação e o tipo de sensação que seria gerada. Essa profunda compreensão da acupuntura demonstra seu notável talento na área.

Na Medicina Tradicional Chinesa (MTC), a alimentação desempenha um papel significativo, e uma das maiores autoridades nesse campo foi o médico chinês Zhang Zhongjing, frequentemente chamado de “Hipócrates chinês”. Ele é conhecido por sua obra intitulada “Tratado sobre Doenças Febris e Outras”, que teve um impacto profundo na prática da medicina tradicional chinesa.

O “Tratado de Zhang” é um livro de grande importância na área da dietética e ganhou destaque, em particular, por suas contribuições para o entendimento da febre tifoide e outras febres. Suas orientações sobre alimentação e tratamento de doenças febris tornaram-se altamente influentes na MTC e continuam a ser estudadas e aplicadas até os dias de hoje.

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A dieta chinesa tradicional se baseia na teoria dos cinco sabores (doce, amargo, picante, ácido e salgado) e na classificação dos alimentos em categorias que correspondem aos elementos Yin e Yang. A escolha de alimentos é vista como uma maneira de equilibrar as energias do corpo e promover a saúde.

Zhang Zhongjing também destacou a importância dos banhos frios como parte essencial do tratamento. Essa abordagem, com raízes na Medicina Tradicional Chinesa, continua a exercer influência na naturopatia moderna.

Ayurveda na Índia Antiga

Durante os primórdios da civilização  Indiana, a prática da medicina ayurveda emergiu como uma forma de medicina tradicional profundamente enraizada na conexão entre o ser humano e a natureza. O Ayurveda promovia a harmonia entre os cinco elementos (terra, água, fogo, ar e éter) para manter a saúde. A dieta, ervas, meditação e massagem eram componentes centrais desse sistema.

A fitoterapia é uma prática essencial na medicina ayurveda. Ervas e substâncias naturais são usadas para restaurar o equilíbrio dos doshas e tratar uma variedade de condições. A combinação de ervas em fórmulas específicas visa abordar a causa como raiz dos desequilíbrios e promover a cura natural.

Massagens, terapias de óleo e práticas de detoxificação também desempenham um papel vital na medicina ayurveda. Essas terapias visam liberar toxinas do corpo, equilibrar os sistemas de energia e promover a circulação saudável.

O tratamento preventivo é um pilar da medicina ayurveda. O sistema enfatiza a manutenção da saúde e do bem-estar a longo prazo, e muitas práticas são projetadas para evitar doenças e desequilíbrios.

Em resumo, a medicina ayurveda, que floresceu entre os indianos da antiguidade, compartilha muitos princípios e práticas semelhantes à naturopatia moderna. A ênfase no equilíbrio entre corpo e natureza, a fitoterapia, a abordagem holística, a alimentação consciente, a conexão mente-corpo e a prevenção são aspectos centrais tanto da medicina ayurveda quanto da naturopatia.

Os  Astecas, Incas e Maias

Entre as grandes civilizações antigas dos astecas, incas e maias, a busca pelo equilíbrio entre o homem e a natureza foi uma característica distintiva que ecoa muitos dos princípios fundamentais da naturopatia moderna. Várias práticas e abordagens dessas civilizações compartilham semelhanças com a medicina natural.

Astecas:

Os astecas, situados no que é hoje o México, tinham uma compreensão profunda das propriedades medicinais das plantas. Eles praticavam a fitoterapia, utilizando ervas e substâncias naturais para tratar doenças e promover a saúde. O conhecimento das plantas e suas propriedades medicinais era transmitido de geração em geração. Além disso, os astecas valorizavam a importância da alimentação equilibrada e do uso terapêutico da água, incluindo banhos de vapor.

Incas:

Os incas, no território que abrangia partes da América do Sul, também possuíam uma rica tradição de medicina natural. Eles eram conhecidos por usar ervas e plantas medicinais para tratar diversas condições de saúde. A coca, por exemplo, era usada pelos incas por suas propriedades estimulantes e energizantes. Além disso, os incas reconheciam a importância da nutrição e praticavam a agricultura em terraços para cultivar alimentos saudáveis.

Maias:

Os maias, localizados principalmente na região que hoje abrange México, Guatemala, Belize e Honduras, também tinham uma abordagem única para a medicina natural. Eles combinavam a fitoterapia com práticas espirituais e rituais para cura. Muitas das plantas usadas por eles têm propriedades medicinais que ainda são estudadas e valorizadas hoje em dia. A hidroterapia era utilizada em diversas comorbidades. O banho de vapor conhecido como “Temazcal” até os dias de hoje é muito utilizado pelos descendentes dos nativos da Mesoamérica. Os maias também tinham um profundo entendimento das influências cósmicas sobre a saúde.

Embora cada uma dessas civilizações tenha suas próprias tradições e métodos específicos, todas compartilhavam a crença no poder da natureza como fonte de cura. Essas práticas ancestrais deixaram um legado que ecoa nos princípios da medicina natural e da naturopatia moderna, enfatizando a importância do equilíbrio, da prevenção e da abordagem holística para a saúde e o bem-estar.

Os Árabes da antiguidade

Na antiguidade, a cultura árabe desempenhou um papel significativo na preservação e na disseminação do conhecimento médico hipocrático, incluindo abordagens naturais de cuidados de saúde. Muitos princípios e métodos relacionados à medicina natural podem ser encontrados nas práticas e crenças dos antigos árabes.

As práticas naturais, como a fitoterapia e a hidroterapia, eram conhecidas e utilizadas pelos árabes. Eles exploraram as propriedades terapêuticas das plantas medicinais e desenvolveram técnicas de destilação para extrair óleos essenciais, que ainda são usados na aromaterapia atualmente. Banhos terapêuticos também eram comuns, assim como a crença na influência curativa da água.

Os médicos árabes aceitaram e se engajaram nas doutrinas hipocráticas e galênicas e, em geral, tinham formação eclética, médica e filosófica, mas havia os que atuavam de forma especializada.

O mais famoso desses é o filósofo e médico persa Avicena (Ibn Sina), uma figura notável na história da medicina árabe. Suas obras, incluindo o “Cânone da Medicina” de Avicena, uma enciclopédia médica escrita por volta de 1030 d.C o qual resumia a medicina dos Gregos, a Indiana e a Mulçumana até aquele momento. O Cânone se tornou um texto de autoridade na educação médica europeia até o início da Idade Moderna, tendo um impacto profundo na medicina, influenciando o pensamento

médico em várias culturas. Avicena enfatizava a importância da dieta, do estilo de vida saudável e do equilíbrio para a manutenção da saúde.

A medicina árabe também estava entrelaçada com práticas espirituais e religiosas, como a medicina tradicional islâmica. Esse conceito abordava a saúde não apenas de um ponto de vista físico, mas também espiritual e emocional. A prática do jejum durante o Ramadã é um exemplo disso, onde os muçulmanos se abstêm de alimentos e bebidas durante o dia como parte de um período de detoxificação, purificação e autorreflexão.

Nativos Norte Americanos

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As práticas medicinais tradicionais dos nativos norte-americanos são um tesouro de sabedoria ancestral que reflete a profunda conexão dessas comunidades com a natureza e sua compreensão única da saúde e do bem-estar. Essas práticas, que variavam entre as diferentes tribos e regiões, eram guiadas pela crença de que a harmonia entre os seres humanos, a terra e o cosmos eram essenciais para uma vida saudável e equilibrada.

Fitoterapia:

Uma das características mais proeminentes das práticas medicinais tradicionais dos nativos norte-americanos é a fitoterapia. As tribos possuíam um conhecimento profundo das plantas, suas propriedades medicinais e como usá-las para tratar uma variedade de doenças e desconfortos. Xamãs, curandeiros e anciãos eram os detentores desse conhecimento, transmitindo-o de geração em geração. Ervas como a equinácea, a sálvia, saw palmetto e  a camomila e muitas outras eram usadas para preparar chás, cataplasmas e unguentos terapêuticos.

Fitoterapia e sabedoria ancestral:

As tribos que residiam mais ao norte no que hoje são o Alasca e Canadá, tinham um conhecimento ancestral de como prevenir várias doenças que assolavam os colonizadores europeus a exemplo do escorbuto. Durante a era das grandes navegações os exploradores e colonizadores europeus foram dizimados pelo escorbuto. Nas vastas regiões do norte da América do Norte os nativos Iroqueses ensinaram a tripulação de exploradores  gravemente doente de Jacques Cartier em 1536 como se curar e prevenir o Escorbuto simplesmente consumindo uma decocção iroquesa da casca e folhas de uma espécie de conífera identificada na época como  “Annedda” e ficou conhecida como a “árvore da vida’.

Este conhecimento fazia parte da medicina ancestral de diversas tribos e só hoje se sabe que a Annedda é rica em  ácido ascórbico (vitamina C) e proantocianidinas que eliminam radicais livres e modulam o metabolismo do NO (Oxido Nítrico).

No início da década de 1930, o Dr. Weston A. Price (1870-1948)  dentista de Cleveland iniciou uma série de investigações únicas. Durante mais de dez anos, viajou para partes isoladas do globo para estudar a saúde das populações intocadas pela civilização ocidental. Em contato com os  índios do Canadá, estes revelaram ao Dr. Price que as glândulas suprarrenais dos alces preveniam o escorbuto. Quando um animal era morto, a glândula adrenal e sua gordura eram cortadas e compartilhadas com todos os membros da tribo, prevenindo assim a “doença do homem branco”.

Os povos indígenas canadenses são reconhecidos por sua engenhosidade no processamento de alimentos para remover toxinas por meio de aquecimento, lixiviação, fermentação, adsorção, secagem, processamento físico e alteração da proporção ácido-base. A contribuição dos povos indígenas através da sabedoria ancestral no uso de recursos naturais, reverbera até nossos dias no campo da fitoterapia.

Terapia da Água:

A água tinha um papel significativo nas práticas medicinais dos nativos norte-americanos. Banhos terapêuticos em fontes naturais, fontes termais, rios ou nascentes eram considerados formas de purificação e cura. O banho de vapor  conhecido como “sweat lodge” ou tenda de suor da tribo dos Sioux era utilizado como ritual de purificação da mente, corpo e espírito.  Eles acreditavam que a água possuía propriedades espirituais e físicas e o vapor ativava as forças criativas do universo que ajudavam a restaurar o equilíbrio do corpo e da mente.

Nativos Brasileiros

As práticas medicinais tradicionais dos nativos brasileiros são um reflexo da profunda conexão dessas culturas indígenas com a natureza e a espiritualidade. Ao longo de séculos, diversas tribos desenvolveram métodos de cura baseados em conhecimentos ancestrais transmitidos oralmente e em estreita relação com o ambiente natural. Essas práticas são diversas e variam de acordo com a região e a cultura específica de cada tribo, mas todas compartilham a crença de que a harmonia entre o homem e a natureza é essencial para a saúde e o bem-estar.

Fitoterapia:

Assim como em muitas outras culturas indígenas ao redor do mundo, a fitoterapia era uma prática central nas tribos brasileiras. Os índios conheciam profundamente as propriedades medicinais das plantas da região e as utilizavam para tratar uma variedade de doenças e condições. O pajé, o líder espiritual e curandeiro da tribo, era frequentemente responsável por preparar e administrar esses remédios naturais.

Banho de Ervas:

A terapia da água também era uma prática comum entre os nativos brasileiros. Banhos de ervas eram realizados para limpeza espiritual e física, usando a água como veículo para transmitir as propriedades medicinais das plantas. Essa prática também era vista como uma forma de restaurar o equilíbrio do corpo e da mente.

Todas estas culturas antigas começaram a aprimorar técnicas para restabelecer a saúde e é óbvio que sempre foi usando agentes naturais, conjugando técnicas,  filosofias, ciências e princípios, particularmente aqueles relacionados ao vitalismo.

Idade Média – a idade da escuridão e a naturopatia

A Idade Média, também conhecida como Era Medieval, é um período da história que abrange aproximadamente do século V ao século XV. Este foi o período da história realmente escuro com relação a muitas áreas do saber e principalmente com relação à medicina.

Aos poucos os ensinamentos hipocráticos e de outros médicos da natureza assim como os avanços logrados na idade antiga e os conhecimentos científicos da cultura Greco-Romana sofreram um retrocesso muito grande por conta do domínio da superstição imposta pelo cristianismo da época até que os árabes invadiram a península ibérica.

Durante a Idade Média, existia diferenças na prática médica entre o mundo muçulmano e o mundo cristão. Enquanto o mundo cristão desenvolvia uma abordagem médica cada vez mais baseada em superstição, o mundo mulçumano tinha uma abordagem baseada nos textos clássicos Greco-Romanos das doutrinas hipocráticas com avanços cada vez mais científicos. Os hospitais e os avanços médicos no mundo islâmico eram, de fato, notáveis e frequentemente mais avançados do que os encontrados na Europa ocidental durante a mesma época.

Durante um período considerável da Idade Média, os centros culturais no mundo islâmico, incluindo os árabes, persas e africanos, estiveram na vanguarda da produção científica, filosófica e cultural em comparação com a Europa cristã.

A Península Ibérica dominada pelos muçulmanos, conhecido por Al-Andalus, transformou-se num centro cultural e econômico muito próspero, onde a educação, as artes e as ciências floresceram e a medicina era exercida sem superstições, enquanto no resto da Europa cristã a intolerância religiosa promovida pelo cristianismo Católico Romano provocou o retrocesso nas diversas áreas do saber e conforme a Idade Média avançava, os contatos com as culturas islâmica e bizantina trouxe de volta os conhecimentos antigos baseados em Hipócrates e Galeno, contribuindo para uma evolução gradual da prática médica naturopática.

Desenvolvimento da Naturopatia do final da idade moderna a idade  Contemporânea

No final do século XVIII e início do século XIX com o surgimento da medicina convencional moderna, muitos aspectos da medicina natural foram marginalizados. No entanto, essa época também viu um ressurgimento de interesse na abordagem holística com o uso de recursos naturais para a prevenção e recuperação da saúde.

Europa do início do Século XVIII ao final do Século XIX

A origem da naturopatia moderna remonta ao uso de métodos naturais para restabelecer a saúde nos séculos XVIII e XIX. Esses métodos incluíam principalmente a hidroterapia, muito popular na Alemanha na época, assim como a chamada “cura natural”, desenvolvida na Áustria e baseada no uso de alimentos,  jejum, ar, luz, água, argila, exercícios físicos e fitoterápicos.

Assim, a naturopatia antes de 1895 era conhecida na Europa como “medicina da natureza” ou “cura natural” e seus precursores preconizava o maior contato possível com os elementos naturais de vida.

Na Europa, o interesse crescente pelos métodos naturais de cura ganhou destaque graças ao trabalho de diversos praticantes, incluindo hidroterapeutas notáveis como Sigismundo Hahn, Vincent Priessnitz, Sebastian Kneipp e Luis Kuhne. Além deles, também contribuíram para essa revolução o helioterapeuta e mestre da cura atmosférica, Arnold Rikli, e o geoterapeuta e grande mestre da vida natural, Adolf Just.

Essa época testemunhou um significativo desenvolvimento no uso de ervas medicinais, na promoção de exercícios físicos e na adoção de dietas saudáveis como componentes essenciais do cuidado com a saúde. Todos esses esforços desempenharam um papel fundamental na popularização dos métodos naturais de cura na Europa.

Dr. Benedict Lust e o Termo “Naturopatia”

Benedict Lust nasceu em Michelbach, Baden, Alemanha. Ainda jovem, viu-se acometido pela tuberculose e foi submetido aos cuidados do  padre Sebastian Kneipp, que na época era o mais proeminente representante da medicina da natureza na Europa, cujo sistema terapêutico era baseado na hidroterapia. Em 1892, emigrou para os Estados Unidos, ostentando a posição de eminente representante e divulgador das terapias hidroterápicas de Kneipp.

Seu encontro e diálogos com o Dr. John H. Scheel, médico alemão que praticava os métodos de Kneipp e Kuhn em seu Sanatório Badekur, em Nova York, EUA, despertaram em sua mente, a ideia acerca da necessidade de renomear o sistema que abarcava uma variedade de recursos naturais com o objetivo de restabelecer a saúde. Essa nova nominação visava distanciar o sistema da conotação de curandeirismo e, em vez disso, conferir-lhe uma nomenclatura que refletisse uma abordagem mais científica.

Dr. John H. Scheel relatou a Benedict Lust que, em 1895, teve a ideia de nomear o sistema previamente conhecido como “cura natural” de “naturopatia”. A expressão foi adotada para descrever os métodos de tratamento que envolviam principalmente a hidroterapia, além de outros recursos utilizados na abordagem da cura natural.

Desta forma, o termo contemporâneo “naturopatia”, em português e em todos os idiomas, vem do inglês “naturophaty” resultante da combinação das palavras em latim “natura”, natureza e do grego “pathos”, sofrimento, significando: “tratamento do sofrimento por meio da natureza.

Em 1901 o Dr. John H. Scheel confiou o seu conceito ao Dr. Benedict Lust para que doravante o sistema de cura natural ou medicina da natureza, fosse chamado de Naturopatia. O nome Naturopatia foi oficialmente apresentado ao público na convenção Kneipp realizada em Nova York neste mesmo ano, marcando assim o nascimento da naturopatia moderna e Benedict Lust passou a ser conhecido como o Pai da Naturopatia nos Estados Unidos da América e maior impulsionador da Naturopatia Científica no mundo.

Por esse motivo a América do Norte é considerada o lar da naturopatia moderna e de possuir o mérito por codificar e padronizar os princípios naturopatas de acordo com os conceitos hipocráticos comprovados cientificamente contribuindo com algumas das teorias e práticas estabelecidas, que agora são usadas em todo o mundo.

Naturopatia na América do Sul

O surgimento do movimento naturopático na América do Sul teve início com as práticas medicinais dos povos nativos de diversas regiões, que, ao entrarem em contato com os imigrantes europeus, deram origem a uma sinergia de tratamentos fundamentados em recursos naturais.

Mas foi no Chile, onde a naturopatia atingiu seu auge com a chegada do sacerdote alemão conhecido como padre Tadeo de Wisent à região de Araucanía, no sul do país. Discípulo de Sebastian Kneipp, o padre Tadeo estabeleceu um centro onde aplicava a hidroterapia como tratamento para os doentes, o que lhe rendeu o apelido de “mago da água”.

Nesse contexto, surgiu o mais proeminente naturopata da América Latina: Manuel Lezaeta Acharan. Seu encontro casual com o padre Tadeo ocorreu quando ele estava afastado do curso de medicina devido à sífilis, após várias tentativas infrutíferas de tratamento convencional. Seguindo o conselho do padre Tadeo, ele empreendeu uma batalha contra a doença através dos métodos de cura natural, recuperando sua saúde e se tornando um devoto seguidor e divulgador do sistema de cura natural.

Lezaeta Acharan estudou e compilou técnicas desde a era de Hipócrates até as contribuições dos grandes nomes da naturopatia europeia. Ele sistematizou e simplificou esses métodos de cura natural, o qual denominou de “Doutrina térmica”. Contemporâneo de Benedict Lust, participou do Congresso Naturopático nos Estados Unidos promovido pela American Naturopathic Association por motivo da celebração do seu Golden Jubilee em New York em 1947, dois anos depois da morte de  Benedict Lust.  Fundou o centro de tratamento naturopático em Santiago do Chile, chamado de El Hogar de Vida Natural.

O impacto dos ensinamentos naturopáticos de Manuel Lezaeta Acharan principalmente depois da publicação do seu livro “A medicina natural ao alcance de todos” em 1934, colocou em evidência a Naturopatia, onde seus ensinamentos reverberaram por toda a América Latina desdo México até a Patagônia e não passou desapercebida no Brasil.

Naturopatia no Brasil

No Brasil assim como na maioria dos países da América do Sul não é possível encontrar um personagem em especial que iniciou o movimento naturopático como no Chile.

É provável que alguns adeptos da medicina natural alemães, italianos, portugueses, espanhóis, turcos, libaneses e japoneses  nos primórdios do século XX, tenham emigrado para o Brasil e contribuído para a promoção e prática da medicina natural na região, porém, de forma particular e sem muita repercussão.

No estado do Rio Grande do Sul, com a chegada dos imigrantes de origem alemã, o movimento naturopático ganhou ímpeto, destacando-se a família Klein pela sua notória influência do movimento europeu de cura natural. Os Klein especializaram-se em um dos recursos amplamente utilizados pela naturopatia: a fitoterapia. Esse conhecimento culminou na fundação dos Laboratórios Klein, que se tornaram referência na área.

Por outro lado, a forte influência de imigrantes que trouxeram consigo as tradições e técnicas naturopáticas europeias para o Brasil é evidenciada na terceira edição do livro do século XIX sobre técnicas hidroterápicas em italiano: “La mia Cura Idroterapica,” de Sebastian Kneipp. Este valioso livro faz parte do acervo da família Nespolo, de ascendência italiana, que o trouxe consigo ao Brasil, preservando assim as raízes de suas tradições ancestrais no conhecimento da cura natural vindas da Itália.

Sem dúvida, a influência dos trabalhos de Manuel Lezaeta Acharan foi o catalisador que impulsionou a Naturopatia moderna no Brasil. Durante as décadas de 1970 e 80, testemunhamos um crescimento exponencial do movimento naturopático no país. No entanto, esse crescimento ocorreu de forma desorganizada e carente de um embasamento científico sólido. Muitos dos recursos preconizados pelos naturopatas de renome mundial começaram a sofre hibridização ficando entrelaçados com aspectos místicos.

Naturopatia: Expandindo Horizontes do Sul ao Nordeste do Brasil

Nesse cenário desafiador, emergiram dois destacados defensores da Naturopatia científica: os naturopatas Dr. Áureo Augusto e Dr. Fernando Hoisel. Eles assumiram a tarefa crucial de estabelecer padrões científicos sólidos para a prática naturopática no Brasil.

Nascido em Salvador, em janeiro de 1953, Dr. Áureo Augusto iniciou sua trajetória acadêmica na Universidade Federal da Bahia (Ufba)  em 1971, ingressando na cátedra de medicina. Durante a década de 1970, conheceu a Macrobiótica através das obras literárias de George Ohsawa e Michio Kushi.

George Ohsawa, ilustre filosofo japonês que em 1920, baseando-se em conceitos do budismo formulou e divulgou  a macrobiótica por todo o mundo e Michio Kushi era um advogado japonês especializado em direito e relações internacionais e discípulo George Ohsawa, mas também fundamental na introdução da macrobiótica na América do Norte na década de 1950.

Dr. Áureo Augusto  ficou encantado com os conceitos macrobióticos e começou a praticar e a divulga-la como um tipo de medicina que aborda um estilo de vida em harmonia com a natureza. Posteriormente conheceu a naturopatia por meio da obra de Manuel Lezaeta Acharan,  o que o levou a aprofundar-se nesta área.

Decidiu  viajar para o Chile para trabalhar e aprender as técnicas naturopáticas preconizada pelo Dr. Manuel Lazaeda Acharan na clínica fundada por ele, onde passou um ano.

De volta ao Brasil, Dr. Áureo Augusto se torna um dos maiores divulgadores da naturopatia cientifica, primeiro em Salvador e depois na comunidade fundada por ele no Vale do Capão, Bahia, denominada Lothlorien, nomenclatura inspirada e extraída da obra “Lord of the Rings”, (O Senhor dos Anéis) de J.R.R. Tolkien.  Lothlórien evoluiu de uma comunidade para um centro proeminente de práticas naturopáticas, especialmente durante a década de 1980.

Natural de Ilhéus, o Dr. Fernando Hoisel formou-se em medicina pela conceituada Universidade Federal da Bahia (Ufba) em 1974. Foi em meados da década de 1970 que conheceu os trabalhos acadêmicos do Dr. Manuel Lazaeda Acharan ficando impressionado pelos conceitos profundos ali elucidados. Durante vários anos, embarcou em extensas viagens pela América Latina, dedicadas ao estudo abrangente de plantas medicinais e alternativas aos tratamentos médicos convencionais. Além disso, ele emergiu como uma figura de vanguarda na Bahia, sendo pioneiro no cultivo de produtos orgânicos e na defesa de uma dieta saudável.

Nos meados da década de 1990 tendo como referência a trajetória dos Drs. Áureo Augusto e Fernando Hoisel, um grupo de naturopatas se uniram com o intuito de desvincular a prática naturopata do estigma de curandeirismo, charlatanismo e misticismo.

Expansão do movimento da Naturopatia Científica

Durante a expansão do movimento em prol de uma Naturopatia baseada em evidências, surgiram no final diversos nomes notáveis, como o Dr. Pacheco, a Dra. Regina Valverde, o Dr. Júlio P. Moore, o Dr. Carlos Luís da Paixão, o Dr. Amílcar Gomes de Oliveira, o Dr. Jorge Conceição, o Dr. Antônio José Ferreira Cunha, o Dr. Ranieri de Carvalho, o Dr. Paulo Galvão, além dos acupunturistas especializados em Medicina Tradicional Chinesa, como José Augusto Torres, Matoshi do Centro Cultural Brasil-China,  Dr. Lim, e o osteopata e quiropata francês especializado em RPG, Dr. Pierre François Marchat. Todos eles se dedicaram incansavelmente à promoção de uma preparação acadêmica sólida para os naturopatas.

Esse grupo uniu esforços para realizar uma série de reuniões na Universidade do Estado da Bahia (Uneb) com o objetivo de estabelecer entidades que seguissem o modelo preconizado pela WNF (World Naturopathic Federation).

A partir do ano 2000, os esforços deste grupo resultaram na criação de vários cursos voltados para o ensino de uma prática naturopata fundamentada em bases científicas. Essa iniciativa alinhava-se com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS) em relação às medicinas tradicionais ancestrais.

Nasce a FAMET

Como resultado desses esforços, a Faculdade de Medicina Tradicional da Bahia (FAMET) foi estabelecida. A FAMET obteve a devida autorização dentro do marco regulatório do Ministério da Educação, alcançando um número expressivo de alunos já em seu primeiro semestre e expandindo-se para criar um campus no Município de Serrolândia no segundo semestre.

No ano subsequente, em 2001, a faculdade estendeu um convite ao renomado Dr. Prof. Paulo Galvão, médico neurocientista com especialização em Psiquiatria e naturopatia, além de ser Diretor do Instituto Latino-Americano de Psicobiofísica (ILAP) com sede na cidade de Asunción, Paraguai. Esse convite marcou o início de uma parceria significativa entre a FAMET e o Dr. Paulo Galvão para a criação de um laboratório fitofármaco de destaque.

Após funcionar por quatro anos e enfrentar oposição de diversos setores profissionais da área da saúde, incluindo alguns naturopatas que discordavam da abordagem científica estabelecida pela FAMET em seu curso de graduação em Naturopatia, a instituição encerrou suas atividades. Apesar dessa derrota, o grupo de naturopatas persistiu na luta em prol da Naturopatia científica, reconhecendo a necessidade de apoio político governamental para o movimento.

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Em 2004, meses antes do fechamento da FAMET, o Dr. Luiz Antônio, proveniente do Estado de Sergipe, deslocou-se para Salvador com o propósito de transplantar o mesmo projeto para sua região. Fruto dessa parceria, surgiu o Instituto Sergipano de Desenvolvimento Educacional e de Ações Comunitárias (ISDECAC), que lançou o curso de Naturopatia seguindo os mesmos moldes preconizados pela FAMET.

Na cidade de Aracaju, após várias reuniões com vereadores e deputados estaduais que demonstraram apoio ao movimento naturopático, duas leis foram promulgadas com o objetivo de reconhecer a Naturopatia científica tanto no âmbito estadual quanto municipal. Esses marcos legais foram concretizados por meio da Lei Estadual nº 5.421/2004 e da Lei Municipal nº 3.494/2007.

Criação do Sindicato de Medicina Tradicional da Bahia (SINDMET)

Em 2002 foi criado o Sindicato de Medicina Tradicional da Bahia (SINDMET) com o apoio do Deputado Federal Gerson Gabriele que Junto com o Dr. Carlos Paixão protocolou o registro da entidade no Ministério do Trabalho em Brasília e que por falta de apoio dos naturopatas não avançou e diante de eventos ocorridos o SINDMET este foi substituído pelo Sindicato Nacional dos Naturopatas Científicos (SINDNAC).

Fundação Do COFEMEN e da ABMTN,  e a Criação do ICNB

O ano de 2004 foi um ano emblemático para a naturopatia com a criação do Conselho Federal de Medicina Naturopática (COFEMEN) e da Associação Brasileira de Medicina Tradicional Natural (ABMTN). A ABMTN foi oficialmente fundada em Aracaju, onde em parceria com o Ministério da Saúde do Estado de Sergipe e a Secretaria de Saúde do município de Aracajú, foram realizados diversos eventos em prol da Naturopatia.

Entre esses eventos, destacou-se a realização de um simpósio de Naturopatia no município de Alagoinhas, na Bahia. Esse simpósio culminou na elaboração do projeto de lei municipal nº 1.989, que regulamentou a prática da Naturopatia nesse município.

Com o encerramento das atividades da FAMET e o fortalecimento do grupo, surgiu o Instituto de Ciências Naturais da Bahia em 2006, que hoje é conhecido como o Instituto de Ciência Naturopática do Brasil (ICNB). Nesse mesmo ano, foi estabelecido um convênio com a Faculdade Ratio, sediada em Fortaleza, para o desenvolvimento de cursos de Pós-Graduação nas áreas de Naturopatia Clínica, Acupuntura, Homeopatia, Fitoterapia e Estética Natural.

Além disso, foram celebrados acordos com a Faculdade Montenegro, por meio da Unidade Nacional de Ensino Superior Integrado (UNESI), focados tanto na graduação quanto na pós-graduação, com a realização dos cursos nas cidades de Salvador e Feira de Santana.

Em 2010, o Instituto de Ciência Naturopática do Brasil (ICNB) estabeleceu contato com o Reitor da Universidade de Naturopatia da Itália, o Dr. Antônio Cobalto. Após firmar essa parceria, deu-se início a um curso de pós-graduação em Naturopatia destinado aos profissionais da área da saúde. O objetivo era proporcionar a esses profissionais o conhecimento da Naturopatia embasada em evidências.

No entanto, esse projeto enfrentou diversas oposições por parte dos respectivos conselhos de classe dos profissionais de saúde, o que impediu sua concretização. Apesar da oposição, na busca por um marco regulatório estadual, foi elaborado o projeto de lei 18.728/2010, que tramitou na Assembleia Legislativa da Bahia por um período considerável. Entretanto, devido à falta de interesse político e à falta de clareza em sua justificativa, o projeto não avançou e acabou sendo arquivado.

Região Sul e Região Nordeste unidos pela Naturopatia

Entre os anos de 2013 e 2014, um grupo de Naturopatas da Região Sul, insatisfeito com o rumo da Naturopatia no país, liderado pelos Drs. Milton Nespolo e Gilson Rogerio da Silva, tomou conhecimento da existência do COFEMEN e da ABMTN. Diante dessa descoberta, eles entraram em contato com o Dr. Carlos Paixão e, após várias reuniões e discussões, estabeleceram o Conselho Regional de Medicina Naturopática (CREMEN).

Preparando o Caminho da Regulamentação da Naturopatia

Após uma série de encontros e discussões entre os profissionais da área de Naturopatia, surgiram reviravoltas e desacordos que levaram à divisão dos naturopatas no país. Nesse cenário, no estado da Bahia, o Dr. Carlos Paixão, que na época era presidente do COFEMEN, recebeu um convite para se reunir com o Conselho Regional de Medicina (CRM). Após intensas negociações, chegou-se a um acordo que resultou na retirada do termo “medicina” do conselho, que passou a ser denominado Conselho Federal de Naturopatia Científica (CFENAC).

Da divisão entre os naturopatas, um grupo permaneceu comprometido com a visão de uma Naturopatia fundamentada em evidências, composto pelos Drs. Carlos Paixão, Milton Nespolo, Jesus Augusto, Jairo Goes, entre outros. Em 2019, esse grupo recebeu a adesão da naturopata Dra. Maria Ferreira Guedes. Após várias reuniões e discussões, deram início à elaboração de um projeto de lei com o objetivo de regulamentar a Naturopatia no Brasil.

No decorrer desse processo, a Dra. Maria Ferreira Guedes, com sólidas habilidades de articulação política, estabeleceu contato com a então Deputada Federal Prof. Rosa Neide, que assumiu a autoria do projeto de lei. Neste período, se uniram nesta jornada, os Drs. Fábio Pimentel, César Eduardo Bess, Agenor Vivian e Bruno Aguiar para fazerem parte da diretoria.

Em 2021, após uma série de reuniões entre os naturopatas e a então deputada Federal Prof. Rosa Neide, ela solicitou que eles elaborassem a justificativa para fundamentar o projeto de lei. A complexidade desse projeto, cujo objetivo era regulamentar a profissão de naturopata com base em evidências científicas, levou o Dr. Carlos Paixão a convidar o Dr. Amilcar Gomes de Oliveira, que havia se afastado do movimento em 2003, para elaborar a justificativa.

Essa justificativa é sustentada por um total de 21 referências, que incluem 9 referências científicas, 3 referências demonstrando o potencial de mercado da naturopatia, 3 referências do Ministério da Saúde e 6 referências da Organização Mundial da Saúde (OMS) em apoio à naturopatia. Essa base sólida de referências fortalece a argumentação em favor do projeto de lei.

Em 02 de agosto de 2021, o Projeto de Lei 2622/2021 foi apresentado à mesa da Câmara dos Deputados do Congresso Nacional e permanece em tramitação até a presente data nas comissões do Congresso. Ao longo desse período, foram realizadas adaptações tanto no CFENAC, que agora é denominado Conselho Nacional de Autorregulamentação dos Naturopatas Científicos, quanto na Associação, que foi transformada na ABNAT, a Associação Brasileira de Naturopatia. Essas mudanças foram implementadas com o objetivo de adequar as instituições ao novo marco legal.

Naturopatia nos Dias Atuais e Desenvolvimento da Profissão

Hoje, a naturopatia é praticada em todo o mundo e muitos países reconhecem os naturopatas como profissionais de saúde licenciados com associações e regulamentações. Por este motivo, tanto a ABNAT quanto o CFENAC estão engajados em seguir o exemplo dos países onde a naturopatia se encontra devidamente regulamentada. A abordagem holística, que visa tratar a pessoa como um todo, continua a atrair aqueles que buscam um equilíbrio entre métodos naturais e convencionais.

Conclusão

A história da naturopatia remonta aos primórdios da humanidade, quando diversas culturas exploravam as conexões entre a natureza e a saúde. Ao longo dos séculos, essa abordagem evoluiu e se adaptou, dando origem à prática moderna da naturopatia. Hoje, a naturopatia continua a prosperar como uma técnica valiosa e complementar aos métodos convencionais de cuidados de saúde, mantendo viva a tradição ancestral de buscar a cura através dos recursos naturais sempre baseada em evidências cientificas como preconiza a OMS. Essa é a missão da ABNAT.

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Sobre o Autor:

Dr. Amilcar de Oliveira é Naturopata, Pós-graduado  em Biologia Molecular com foco em Mitocôndrias pela Harvard University e Pós-graduado em Nutrologia pelo Instituto Caduceu.

Biohacker, pesquisador e educador da saúde com habilidades para transmitir e traduzir ciência para o público, centrado no hipocratismo. Defensor de recursos horméticos como ferramenta epigénetica para reprogramar o genoma, alcançando uma longevidade e rejuvenescimento sustentável e como ferramenta para a prevenção e restauração da homeostase.